Umbu se destaca na paisagem em maior safra dos últimos três anos

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Fruto símbolo da Caatinga proporciona desenvolvimento econômico às comunidades do Território do Sertão do São Francisco (BA)

Os pés de umbu carregados trazem o resultado do prolongado período de chuvas no sertão da Bahia neste ano. Fruto símbolo da Caatinga, a fruta terá a maior safra dos últimos três anos, numa estimativa que pode chegar a 80 toneladas colhidas entre dezembro passado e o fim do mês de abril.

O umbuzeiro é uma espécie endêmica da Caatinga, ou seja, apenas se desenvolve nesta região específica e, por isso, tem o seu fruto como o principal produto da cadeia da sociobiodiversidade do bioma. O umbu é a base da economia familiar e da alimentação dos povos sertanejos, principalmente no Território do Sertão do São Francisco, área que engloba dez municípios baianos: Uauá, Campo Alegre de Lourdes, Canudos, Casa Nova, Curaçá, Juazeiro, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé e Sobradinho.

O sabor cítrico adocicado do fruto se destaca no paladar de diversas receitas que tem o fruto como principal ingrediente. São cremes, doces, sorvetes, compotas, licores, conservas, polpas silvestres e até cervejas.

Na produção da Cooperativa Agropecuária Familiar de Uauá, Canudos e Curaçá (Coopercuc), o que mais sai é o doce de corte de umbu. Num catálogo de cerca de 20 produtos produzidos pela cooperativa e comercializados pela linha Gravetero, os à base de umbu são responsáveis por 40% do faturamento da Coopercuc, que, no ano passado, superou R$ 1,4 milhão.

Mas a presidente da cooperativa, Denise Cardoso, explica que nem sempre foi assim. “O umbu chegava a ser desperdiçado, pois os extrativistas não tinham como dar a vazão adequada à produção. Foi assim, que a cooperativa surgiu para, além do trabalho social na região, ajudar no incremento da renda das famílias”. Atualmente, a cooperativa criada em 2004 reúne 271 produtores rurais, mulheres, em sua maioria.

A importância do umbu, no entanto, ultrapassa as fronteiras do estado e é destaque em todo país figurando entre os dez primeiros da lista dos principais produtos alimentícios da extração vegetal nacional, segundo a última edição da Pesquisa da Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (Pevs), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados mostram que foram produzidas 7.465 toneladas de umbu em 2017 no Brasil, sendo 74% (ou seja, 5.508 toneladas), na Bahia.

E assim o umbu colhido pelas extrativistas do sertão baiano e beneficiado na agroindústria da Coopercuc chega às prateleiras dos supermercados mais sofisticados do Brasil, ao Mercado de Pinheiros, em São Paulo, e até às mesas de consumidores na Itália, França e Áustria.

Parcerias fortalecem produção

Além da Coopercuc, outras cooperativas locais se organizam para aprimorar o desenvolvimento dos produtos da agricultura familiar. É o caso da Central da Caatinga, que desde 2016 busca agregar valor à produção de trabalhadores rurais e promover a conservação da biodiversidade, que, apesar da aparente hostilidade, proporciona grande potencial de riqueza para os seus povos.

“Vivemos num bioma em que a sua biodiversidade nos permite tirar nosso sustento seja a partir da extração de frutas ou da criação de animais”,

defende o presidente da instituição, Adilson dos Santos, para quem a Caatinga só tem valor em pé. Além do umbu, o maracujá da caatinga, o licuri e as criações de onivos e caprinos reforçam a produção rural.

Há pouco mais de um ano, a Central da Caatinga expandiu a comercialização dos produtos da agricultura familiar e passou a vendê-los também em um Armazém na Praça do Jacaré, no Centro da cidade de Juazeiro. “O nosso desafio é justamente que este seja um produto com ênfase no mercado e com grande compromisso e responsabilidade social no processo de produção e comercialização”, pontua Santos, que contabiliza uma média mensal da venda em torno de R$ 12 mil.

O desafio da conservação da biodiversidade da Caatinga pelo seu uso no Território do Sertão do São Franciscoconta com apoio do Projeto Bem Diverso. Além das parcerias com as associações de produtores locais Coopercuc e Central da Caatinga, o Projeto ainda promove o desenvolvimento sustentável da região com ações conjuntas de formação e capacitação com a Escola Família Agrícola do Sertão (Efase), o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), a Fundação Araripe e a Assessoria e Gestão em Estudos da Natureza, Desenvolvimento Humano e Agroecologia (Agendha).

Lara Aliano, Agência MOC

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