Recuperação das águas do Cerrado fortalece comunidades tradicionais

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No Dia Mundial da Água, Projeto Bem Diverso destaca engajamento dos geraizeiros para restaurar o ecossistema

Conhecido como o “berço das águas” ou “caixa d`água do Brasil”, o Cerrado abriga oito das doze regiões hidrográficas brasileiras e abastece seis das oito grandes bacias do país. A situação atual, no entanto, não faz jus ao título, pois a devastação da cobertura vegetal do Cerrado já alcançou 52%. Nascentes, rios, riachos e, principalmente, a vida dos povos tradicionais das chamadas gerais, no norte de Minas Gerais, foram comprometidos e sofrem com a falta de água, que assolou o território a partir da chegada de grandes empresas de plantação de eucalipto e de exploração de minério na década de 1970.

No Dia Mundial da Água, 22 de março, à luta dos geraizeiros somam-se as atividades de restauração do bioma para a recuperação da sua funcionalidade ecológica, com equilíbrio do fornecimento de água, o fortalecimento da segurança alimentar e a segurança da biodiversidade. “Isso aqui é a vida nossa. Quando a gente vê que mais de 50% do Cerrado foi destruído dá uma dor enorme no coração, porque é muito difícil viver num local sem água”, lamenta Madalena Isabel Ferreira, 24 anos, moradora de São João do Paraíso. Ela defende o uso sustentável do ecossistema para garantir qualidade de vida aos filhos e netos.

Para João Ferreira, agricultor nascido e criado no território, a água é uma dádiva divina e está sendo afetada pelo mau uso do homem, deixando o geraizeiro sem esperança na produção familiar.

A recuperação das águas também é uma preocupação do Projeto Bem Diverso, fruto da parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com recursos do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF). O Projeto contribui para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável do PNUD: Vida Terrestre (ODS 15), Água Potável e Saneamento (ODS 6).

O coordenador do Bem Diverso e pesquisador da Embrapa, Anderson Sevilha, explica que ao chegar ao Território de Alto Rio Pardo (MG) com o Projeto para trabalhar com as questões do uso sustentável da biodiversidade, descobriu-se a necessidade premente de recuperação de suas áreas de cerrado e de suas águas.

Dentro desse processo, estamos adaptando o trabalho com o manejo do uso da biodiversidade, pensando em como restaurar o Cerrado, as águas e, sobretudo, os povos deste território e sua cultura.  

Restauração do Cerrado e das suas águas

Uma das técnicas já desenvolvidas que tem demonstrado sucesso na restauração ecológica do bioma é a semeadura direta. Pela reintrodução de todos os estratos do Cerrado (ervas, arbustos e árvores) a partir da plantação de sementes nativas, coletadas pelos próprios moradores da região. A cobertura vegetal do Cerrado é fundamental para garantir os fluxos hídricos. O bioma influencia o regime de chuva das diversas regiões do Brasil, carregando a umidade e vapor d’água da bacia amazônica para as regiões Sul e Sudeste.  

O conhecimento das comunidades tradicionais sobre a ecologia do Cerrado, a identificação e interação de suas espécies com a água, solo e fogo são determinantes para o desenvolvimento da rede de restauradores de Alto Rio Pardo. O Projeto capacita os moradores, jovens estudantes, parceiros locais para o desenvolvimento de atividades a partir da unidade demonstrativa de restauração.  

“Já fizemos a recuperação na beira das nascentes dos córregos com plantas frutíferas e nativas, e agora estamos com o trabalho de cercamento de mais de 6km de nascente para a contenção de água e o abastecimento do lençol freático”. É o que conta o agricultor José da Silva ao salientar a importância da parceria com o Projeto para a melhoria de vida de mais de 120 famílias e 360 pessoas da região: “muitas delas chegam de comunidades vizinhas para pegar água de carro-de-boi, carroção”, complementa o morador da comunidade de Roça do Mato. 

A preocupação em torno da restauração do ecossistema não é apenas dos geraizeiros. O mundo todo está em alerta, tanto que as Nações Unidas declaram os anos de 2021 a 2030 como a década da restauração dos ecossistemas. É a oportunidade de todos intensificarem medidas para combater a crise climática e melhorar a segurança alimentar, o fornecimento de água e a biodiversidade. Saiba mais: https://bit.ly/2C4kotx

Lara Aliano, Agência MOC

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