Mestrandos em sustentabilidade junto a povos e terras tradicionais debatem as lutas e conquistas no processo de produção de conhecimento em seus territórios
Lideranças quilombolas, extrativistas, ribeirinhas, geraizeiras entre outras debateram sobre os modos de vida e a sustentabilidade dos povos tradicionais no encontro II Narrativas Interculturais e Decoloniais em Educação, realizado na Universidade de Brasília (UnB), de 3 a 5 de abril. Com apoio do Bem Diverso, alunos do Mestrado em Sustentabilidade junto a Povos e Terras Tradicionais (MESPT) participaram da reflexão ao demostrar os desafios enfrentados por esses povos e a importância da cultura e dos conhecimentos tradicionais.
A quilombola Maria Aparecida Mendes foi uma das participantes do conversatório sobre o “Protagonismo intelectual de povos e comunidades tradicionais: o pluralismo epistêmico e justiça cognitiva”. Ela contou como se deu a sua aprendizagem na escola numa época em que o ensino era baseado apenas na realidade dos grandes fazendeiros das terras de Pernambuco. “As professoras eram as esposas deles, quando eu passei a frequentar a escola aos nove anos. Mas eu já tinha aprendido muitas coisas antes com a minha família”, lembrou ela.
Liderança no quilombo da Conceição das Crioulas, em Salgueiro (PE), Cida, como é mais conhecida, defendeu, em sua apresentação, as lutas de sua comunidade e a produção e difusão do conhecimento tradicional: “A construção da sabedoria se dá no seio das comunidades pelos seus povos, que também devem receber o reconhecimento enquanto intelectuais”.
O mestrando Dadiberto Azevedo da comunidade tradicional agroextrativista Ilha do Capim, de Abaetetuba (PA), levou ao encontro a discussão de como o território, a identidade e a sustentabilidade são alternativas para o desenvolvimento dos povos tradicionais. O território em que vive o extrativista é alvo das empresas de mineração de alumínio que atuam de forma irresponsável, contaminando a água e, consequentemente, toda a cadeia de produção e alimentação dos povos ribeirinhos, que tem como principal produto o açaí.
Tradicional da região do norte de Minas Gerais, Rubem de Almeida também defendeu a sustentabilidade do seu território no encontro. Em Alto Rio Pardo, os geraizeiros enfrentam a devastação do bioma nativo para o plantio de monoculturas de eucalipto, uma espécie exótica que traz impactos negativos ao modo de produção e subsistência daqueles povos tradicionais. “Há grandes desafios para a manutenção do geraizeiro na sua terra. É um cenário de luta para o fortalecimento do seu modo de fazer e para a conservação da biodiversidade”, defendeu.
Lara Aliano, Agência MOC