Festa do Licuri reforça a importância da agricultura sustentável e da conservação da Caatinga

Com apoio do Projeto Bem Diverso, evento reuniu produtos do Licuri com foco na gastronomia

No último fim de semana (dias 18 e 19), a Comunidade de Mata do Estado, zona rural de Capim Grosso (BA), se tornou palco da 11ª edição da Festa do Licuri. Realizada pela Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (COOPES) e pela Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Mata do Estado, o evento reuniu produtores, consumidores dos produtos da palmeira e público em geral vindos de todo o Nordeste. A festa conta com o apoio do Projeto Bem Diverso em oficinas de técnicas e práticas de manejo para a restauração das populações naturais desde a edição de 2016.

A programação contou com mais de 100 estandes de exposição e vendas de produtos a base de Licuri, oficinas temáticas, capacitações, concursos, apresentações culturais e shows de bandas de forró. A cada ano a festa é realizada em uma comunidade rural dos territórios da Bacia do Jacuípe e Piemonte da Diamantina e tem como objetivo valorizar o Licuri, uma das maiores fontes de renda da agricultura familiar na região oriental e central da Bahia.

“Este ano demos ênfase maior na parte de gastronomia, de forma a potencializar o Licuri na alimentação humana. Tivemos aulas, cursos e a presença de chefs de cozinha", disse o técnico da COOPES, Valdivino Araújo, que faz parte da comissão organizadora. A COOPES atua, há 14 anos, na organização da produção e comercialização dos produtos da agricultura camponesa, tendo os extrativistas do fruto como foco de suas ações. 

Boas práticas e agregação de valor

A valorização econômica dos produtos a base de Licuri se relaciona diretamente ao trabalho de conservação ambiental. “Temos atingido um número de parcerias e de demandas muito grande. Crescemos muito colocando o produto no mercado e adotamos medidas de preservação para conciliar essas demandas", complementou Araújo.

O Licuri é reconhecido patrimônio biocultural desses territórios por associar biodiversidade, agrobiodiversidade e cultura da população de um território, expressadas pela conservação ambiental, pelos costumes, no uso artesanal para diversos fins, no hábito alimentar, na manutenção da paisagem e conservação de seus recursos naturais.

Outra medida importante encontra lugar no reflorestamento da Caatinga, bioma no qual o Licuri é predominante encontrado. A recuperação da Caatinga esteve entre as pautas abordadas na programação da festa, além da conscientização sobre as populações tradicionais inseridas nesta rica agrobiodiversidade.

É neste contexto que o Bem Diverso apoia os parceiros locais. O consultor técnico especializado do Projeto Victor Ferreira explica que a proposta é sistematizar informações técnicas fundamentadas tanto pelo conhecimento científico-acadêmico quanto pelo conhecimento tradicional dos agricultores, que possam subsidiar o manejo sustentável da espécie.

“Apesar de ser uma espécie de alto valor socioeconômico e ambiental, existem algumas lacunas de conhecimento acerca dos potenciais impactos do extrativismo e dos modelos de uso da terra sobre a conservação da espécie. A partir das informações geradas, poderemos propor ações e boas práticas para o manejo sustentável da espécie, compatibilizando conservação da biodiversidade com a geração de renda”, disse Ferreira.

Dentre as informações que estão sendo geradas em parceria com o Projeto, podem-se destacar a elaboração de técnicas de baixo custo destinadas à restauração de populações naturais Licuri em estágio avançado de perturbação; o limite máximo para a exploração sustentável dos recursos naturais; a identificação de áreas prioritárias para a conservação e reintrodução da espécie; o mapeamento das principais organizações socioprodutivas envolvidas com o extrativismo da espécie. 

O extrativismo do Licuri como estratégia para a geração de renda e o fortalecimento da identidade cultural de comunidades tradicionais e agricultores familiares no semiárido da Bahia é outro ponto de atuação do Bem Diverso. 

"Durante o festival tivemos a oportunidade de  discutir com os atores locais as diferentes técnicas de propagação do Licuri (produção de mudas, semeadura direta, cercamento de áreas de plantio), visando o cultivo e a recuperação de populações naturais em áreas de caatinga", pontuou Ferreira sobre as atividades desenvolvidas pelo Bem Diverso nas oficinas. Além disso, a AGENDHA, parceira institucional do projeto Bem Diverso,  realizou oficinas de capacitação objetivando o desenvolvimento de produtos (receitas e peças de artesanato) derivados do Licuri.  

Sobre o Licuri

Da espécie Licuri é possível aproveitar toda a planta. A palmeira é símbolo sagrado para muitos povos indígenas, como o grupo dos Fulniôs e Kaimbés que realizam seus rituais utilizando as folhas, os frutos e ainda as matas de licurizeiros para retiro espiritual.

Do licurizeiro, que atinge até 11 metros de altura, as folhas podem servir para o artesanato, a confecção sacolas, chapéus, vassouras entre outros produtos. Da amêndoa se extrai o óleo, utilizado na alimentação e também para produção de sabão. Dos resíduos da amêndoa advindos da produção de óleo também se produz ração para animais.

Ainda é possível fazer doces, licores e o leite de licuri. Muitas comunidades do Nordeste também utilizam as raízes do licuri para fazer chá para tratar dores na coluna vertebral, combater os sintomas da menopausa e ainda como calmante.

Lara Aliano, Agência MOC

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