Extração de óleo de pracaxi empodera mulheres ribeirinhas no Marajó

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O processo artesanal, tradicionalmente desenvolvido por mulheres, favorece a relação entre elas e a biodiversidade da Amazônia

O óleo de cor clara extraído das sementes de pracaxi (Pentaclethara macroloba) é um conhecido fitoterápico por suas propriedades cicatrizantes e antiofídicas. Muito utilizado pelas comunidades ribeirinhas amazônicas, o óleo é tradicionalmente extraído a partir do trabalho das mulheres das comunidades locais. 

Algumas atividades de uso da biodiversidade na Amazônia são culturalmente desenvolvidas por mulheres. É o que destaca a pesquisadora da Embrapa Amapá Ana Cláudia Lira Guedes. “Essa cultura está relacionada ao conhecimento tradicional sobre o uso de plantas medicinais por parteiras e benzedeiras”.

As mulheres da comunidade de Limão do Curuá (arquipélago do Bailique, Costa Leste do Amapá) são referência na extração do óleo da semente de pracaxi pela qualidade e quantidade da produção, que, recentemente, vem chamando a atenção, também, da indústria cosmética. São cerca de 70 extratoras que potencializam o empreendedorismo feminino na região, pertencente ao Território da Cidadania do Marajó.

Segundo a comunidade local, em 2017, foi produzido em torno de meia tonelada de óleo de pracaxi e, em 2018, uma tonelada. O volume de produção é um diferencial em Limão do Curuá, que apresenta um modo de produção diferente das técnicas realizadas por extratoras de outras comunidades como as do Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Ilha do Meio, Área de Proteção Ambiental (APA) da Fazendinhado PAE Ilha do Meio e APA da Fazendinha. 

As práticas utilizadas favorecem, inclusive, a troca de experiências entre elas para a propagação de melhores práticas. Em Limão Curuá, o processo começa pela coleta das sementes no rio, descascamento, secagem das sementes no sol, trituração das sementes (em liquidificador ou em máquina de triturar). A etapa de prensagem das sementes trituradas é realizada com a utilização de uma prensa de madeira, o que permite o escorrimento do óleo. É uma adaptação ao tradicional modo de se extrair o óleo, o que potencializa a produção.

“Todo o processo tem duração de cerca de três dias, um redução considerável do período de extração realizado por outras comunidades, que demora em torno de 30 dias”, destaca Ranielly Barbosa, consultora técnica do Projeto Bem Diverso no Território do Marajó, que acompanhou a realização de intercâmbio entre as comunidades.  

Ela explica que uso da prensa de madeira – desenvolvida pelos próprios comunitários de Limão do Curuá – é o que permite a considerável redução do tempo de extração do óleo e, consequentemente, a grande quantidade produzida. Outro processo considerado diferencial na qualidade do óleo de Limão do Curuá é a secagem das sementes ao sol, o que resulta em um melhor aroma ao produto final. Pela técnica aplicada pelas demais comunidades, a semente é cozida, descasacada e fica em repouso antes de passar pelo pilão e ser amassada. A partir da massa formada é feita a extação do óleo. 

A troca de experiências entre as mulheres extratoras das diferentes comunidades e as atividades desenvolvidas pelo Projeto Bem Diverso promovem o desenvolvimento de boas práticas, desde a coleta até o envasamento do óleo. “Ainda enfatizamos no trabalho com as comunidades a relevância da organização dessas mulheres para que tenham maior alcance de mercado e poder de negociação”, acrescenta Ana Cláudia Guedes. O empoderamento da comunidade potencializa a relação das mulheres com a biodiversidade da Amazônia e todo seu potencial econômico.

Lara Aliano, Agência MOC

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