A fim de incrementar as ações de fortalecimento e gestão da unidade de conservação, parceiros e comunidade iniciaram processo de sinalização da RDS e realizaram uma oficina para debater a importância do uso adequado e conservação dos recursos hídricos.
O Projeto Bem Diverso vem realizando ações para fortalecer a gestão da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Nascentes Geraizeiras. Localizada no norte de Minas Gerais (MG), no Território da Cidadania (TC) Alto Rio Pardo, a unidade de conservação criada há dois anos, é gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em parceria com as comunidades e abrange os municípios de Montezuma, Vargem Grande e Rio Pardo de Minas. Os seus 38.177 hectares protegem vários mananciais que abastecem de água os municípios da região e conservam os recursos naturais, que são usados coletivamente por mais de 20 comunidades geraizeiras. Para incrementar as ações de fortalecimento e gestão da unidade, parceiros e comunidade iniciaram processo de sinalização da RDS e realizaram uma oficina para debater a importância do uso adequado e conservação dos recursos hídricos.
A importância da sinalização na RDS Nascentes Geraizeiras
A sinalização aconteceu por meio da instalação de placas de metal erguidas em troncos de madeira, com informações sobre a RDS. De acordo com Zé da Silva, liderança da comunidade Roça do Mato, a visualização dos limites da unidade é necessária para melhorar a compreensão dos moradores e outros gestores sobre a área ocupada pela reserva.
“Muitos dos conflitos na RDS vêm do desconhecimento de seus limites por parte das comunidades e sociedade em geral. Dessa forma, a sinalização beneficiará muito o cuidado com o nosso território”, disse a liderança.
A atividade foi uma ação conjunta entre o Projeto Bem Diverso, o ICMBio e as comunidades geraizeiras. No total foram instaladas 29 placas, adquiridas pelo Bem Diverso, e que tem a RDS como uma de suas áreas prioritárias no TC Alto Rio Pardo. Para o Projeto, ações dessa natureza favorecem a proteção e a conservação dos recursos naturais utilizados pelas comunidades tradicionais que praticam o extrativismo sustentável para segurança alimentar e geração de renda. “A simples identificação dos limites irá facilitar a apropriação da gestão coletiva e o cuidado com esse território tradicional, melhorando a gestão e uso sustentável dos bens naturais fundamentais para a sobrevivência das comunidades geraizeiras”, afirmou Aldicir Scariot, pesquisador da Embrapa e líder do Projeto Bem Diverso.
Para Neuza Maria, analista ambiental da unidade, a sinalização é um passo importante na consolidação e implementação de qualquer unidade de conservação. “ Iniciamos esse processo com apenas dois anos de criação. Essa tem sido uma experiência diferenciada, que tem participação ativa das comunidades beneficiadas”, declarou.
Todo o trabalho de fixação das placas foi feito por meio de mutirões comunitários com o apoio do ICMBio e acompanhados pelo Comitê Local do Projeto Bem Diverso e Conselho da RDS, que desde do ano passado deliberaram pela necessidade das placas e seus locais de instalação.
Capacitação reforça a importância dos recursos hídricos para a região
O evento aconteceu no dia 04 de abril de 2017 na comunidade Mandacaru e teve como tema a “Gestão dos Recursos Hídricos da RDS Nascentes Geraizeiras”. A ação faz parte do “Projeto Águas dos Gerais”, aprovado pela Associação da Comunidade de São Modesto, no Edital DGM-FIP (Dedicated Grant Mechanism for Indigenous People and Local Communities). Embora ainda não tenha iniciado sua execução financeira, o Projeto Águas dos Gerais já realizou atividade graças à parceria entre o Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM), Projeto Bem Diverso, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Pardo (STRRP), Comunidade Mandacaru e ICMBio.
Tendo em vista que a água é o principal recurso natural utilizado pelas comunidades da RDS Nascentes Geraizeiras, a capacitação focou em temas relacionados à conservação e gestão dos recursos hídricos e em experiências de convivência com o semiárido. “A capacitação nos trouxe várias informações técnicas importantes para fazermos a gestão de nossas águas”, afirmou Oscar, liderança da comunidade Mandacaru. “Esse processo de gestão das águas já foi iniciado em outras comunidades aqui na região do Alto Rio Pardo com ótimos resultados. A RDS faz bem em beber dessas boas experiências regionais”, afirmou Moisés Dias, coordenador do STRRP e facilitador do evento.
“Já enfrentamos fazendeiros e fomos ameaçados de morte durante a luta pela RDS para garantir nossas águas. Agora, com a reserva criada, precisamos cuidar dela com muito carinho”, disse a Neusita, liderança da comunidade Água Boa II.
Os próximos passos serão realizar um diagnóstico participativo dos recursos hídricos da RDS e definir quatro microbacias prioritárias para desenvolver ações de recuperação ambiental. “A intenção é que essa iniciativa nas quatro microbacias seja uma semente para começarmos o trabalho e logo depois expandi-lo para outras áreas, com apoio das prefeituras, sindicatos, Embrapa e outros órgãos que atuam na região”, afirmou Mauro Braga, analista ambiental da RDS.