Após 30 anos, o legado do seringueiro Chico Mendes continua vivo

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Confira a atuação do Projeto Bem Diverso para o fortalecimento das comunidades da Resex Chico Mendes, no Acre, e para a conservação da sua biodiversidade

O dia 22 de dezembro de 2018 marca os 30 anos do assassinato do seringueiro Chico Mendes por defender a Amazônia em pé frente aos ataques de fazendeiros que queriam destruí-la no Acre. Símbolo da luta social e da defesa ecológica, o legado de Chico Mendes continua vivo para que a floresta e os seus povos sejam respeitados.

O Projeto Bem Diverso faz parte dessa luta e desenvolve ações de capacitação voltadas à exploração autossustentável e à conservação dos recursos naturais renováveis a partir do projeto “Castanhal, o uso sustentável da sociobiodiversidade” na comunidade do seringal Porvir, Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, no município de Basiléia (AC).

A engenheira florestal Jannyf Santos assessora tecnicamente o projeto na Resex e explica que o objetivo é alcançar uma produção sustentável da castanha-do-brasil, proporcionando alternativas para que a comunidade possa acessar mercados diferenciados de comercialização do produto e evitando os atravessadores (pessoas que compram a castanha direto dos produtores a um preço injusto, inviabilizando a continuidade da cadeia de agregação de valor ao produto final).

O Plano de Trabalho desenvolvido pelo Bem Diverso tem gestão compartilhada com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e, além de oficinas, neste ano já realizou: a entrega de kits com equipamentos de segurança individual para a coleta da amêndoa; a consultoria para a construção de armazém para a secagem e armazenamento da castanha; e a compra de uma caminhonete para o transporte da produto final até os mercados e indústrias. Desenvolvida com base nas pesquisas conduzidas por profissionais da Embrapa ao longo dos últimos quinze anos, a estrutura do armazém é de madeira, com parte do fundo telada para facilitar o processo de secagem.

Quarenta famílias que realizam a coleta da castanha-do-brasil como principal atividade econômica são beneficiadas pela iniciativa, que tem como proponente do projeto Castanhal a Associação dos Pequenos Produtores Rurais e Extrativistas Wilson Pinheiro, selecionada em edital público da Fundação Banco do Brasil para executar o projeto com financiamento do Fundo Amazônia/Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em consonância com o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica e com o Acordo de Cooperação Técnica ECOFORTE.

Uma delas, a família do jovem Rozinei da Silva Brito, ganhou destaque no Encontro em homenagem a Chico Mendes, realizado de 15 a 17 de dezembro, em Xapuri (AC). Ele recebeu, em nome do pai, o extrativista Severino da Silva Brito, uma das 30 premiações da 15ª edição do Prêmio Chico Mendes de Florestania. “Saber que meu pai tem sido reconhecido por desenvolver atividades que contribuem com o meio ambiente e para o uso sustentável da Amazônia é muito gratificante por todo seu histórico de luta para o desenvolvimento da comunidade”.

Seguindo os caminhos do pai, Rozinei trabalha com o extrativismo nas terras de 1,5 hectare da família em modelo de sistemas agroflorestais (SAF), no quais o plantio da castanha-do-brasil se consorcia com o do açaí, banana, cupuaçu, acerola, graviola, maracujá. “É da cadeia produtiva da castanha e do cultivo em SAF da onde a gente tira a nossa subsistência. E por meio desse modelo conseguimos garantir a conservação da biodiversidade”, defende.

Modelo de conservação na Resex Chico Mendes

Em 1990, dois anos após a morte do líder ambientalista Chico Mendes, foi criada a Unidade de Conservação Federal Reserva Extrativista Chico Mendes (Resex) em sua homenagem. São mais de 930 mil hectares, abrangendo os municípios acreanos de Rio Branco, Capixaba, Assis Brasil, Brasileia, Epitaciolândia, Xapuri e Sena Madureira. Destinada à exploração autossustentável e conservação dos recursos naturais renováveis, a Resex torna possível o desenvolvimento sustentável das populações tradicionais que habitam essa região.

Atualmente, são mais de 10 mil pessoas que tiram seu sustento da coleta de produtos florestais, da pequena agricultura de subsistência e da pecuária em pequena escala. A salvaguarda da Resex enquanto unidade de conservação em parceria com a atuação do Projeto Bem Diverso para a conservação da biodiversidade pelo seu uso proporciona vida digna para o homem que vive na floresta.

A atriz e produtora cultura Lucélia Santos também participou do Encontro em homenagem a Chico Mendes e defende o modelo de unidade de conservação em reservas extrativistas. Confira o recado da atriz que foi amiga de Chico Mendes e até hoje continua a defender o legado deixado pelo líder seringueiro. 

Lara Aliano/ Agência MOC

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