Pesquisadores da Embrapa e da Universidade de Brasília estiveram na Europa para estabelecer propostas de cooperação técnica-científica com pesquisadores europeus. Fruto de uma parceria entre o Projeto Bem Diverso e o Programa Diálogos Setoriais da União Europeia, o encontro aconteceu entre os dias 26/10 a 11/11 em cidades da Alemanha, Finlândia e Holanda. “O encontro proporcionou a identificação de experiências de sucesso no uso sustentável da biodiversidade que podem ser utilizadas no Brasil para estabelecer propostas de cooperação técnico-científica entre a Embrapa e instituições internacionais”, conta Anderson Sevilha, coordenador do Projeto Bem Diverso.
Além dele, participaram ainda o pesquisador Aldicir Scariot, da Embrapa Cenargen e Eraldo Matricardi, professor do curso de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília. Eles estiveram em reuniões em universidades e instituições de pesquisa, fizeram visitas de campo; discutiram possibilidades de cooperação em pesquisa e desenvolvimento; e elaboraram, junto às instituições estrangeiras, arcabouços de projetos que possam dar continuidade ao que vêm sido desenvolvido junto ao Projeto Bem Diverso.
“Apresentamos o Bem Diverso e a forma como atua, colocando a pesquisa à serviço da melhoria da qualidade de vida e da geração de renda das comunidades envolvidas. O respeito a seus modos de vida, promovendo o manejo e a conservação da biodiversidade, a restauração dos agroecossistemas comprometida com o resgate identitário e cultural dessas comunidades, de sua territorialidade, da integração intergeracional e da promoção sucessional no campo; foi recebido de maneira bastante positiva pelos pesquisadores europeus”, conta Sevilha. Ele acrescenta que a história não se resume apenas em atuar no Brasil, mas atuar dentro desse contexto, de fazer com que a Ciência seja gerida e reproduzida pelos próprios agricultores.
A viagem contemplou ainda o objetivo de dar sustentabilidade às ações desenvolvidas pelo Bem Diverso, que já se encaminha para a sua fase de encerramento. “Depois de focarmos no desenvolvimento e apropriação de tecnologias por parte das comunidades envolvidas, visando a obtenção de produtos com qualidade ambiental, sanitária, nutricional e social, é chegado o momento de investir na inserção desses produtos no mercado, levando consigo todo o legado socioambiental construído nessa produção, o que os europeus sabem fazer com propriedade. Além, é claro, de poder colaborar e aprofundar nas questões científicas relacionadas ao manejo das espécies e dos agroecossistemas, do processamento de produtos e da sua comercialização, do desenvolvimento de processos e equipamentos necessários, assim como a busca por crédito e desenvolvimento de políticas públicas necessárias à continuidade dessas ações, conforme discutidos nos encontros”, completa o pesquisador.
Os locais visitados foram a Rhine-Waal University, (Alemanha); a Wageningen University & Research, (Holanda), o Luke Natural Resource Institute (Finlândia), a University of Eastern Finland (Finlândia); e a University of Helsink, (Finlâdia).
Aos visitantes brasileiros foram apresentadas as pesquisas desenvolvidas por aquelas instituições, que resultaram no desenvolvimento de políticas públicas voltadas ao manejo e conservação de espécies e ecossistemas e no desenvolvimento e comercialização de produtos provenientes do extrativismo sustentável daquelas terras: doces, geleias e sucos de frutas silvestres, cogumelos desidratados, carnes de animais nativos enlatadas e uma infinidade de outros produtos, entre eles, os madeireiros, já que na Finlândia, por exemplo, as florestas e seus subprodutos são responsáveis pela manutenção dos modos de vida locais e por parcela significativa do PIB daquele país.
“São ciclos de corte de 70 a 80 anos em propriedades médias de 30 hectares, quando o necessário seriam, pelo menos, 200 hectares para a manutenção das famílias. Isso implica na necessidade da diversificação de atividades e, principalmente, de planejamento de longo prazo, envolvendo o engajamento entre diferentes gerações para a manutenção daqueles sistemas. Na Finlândia, as pessoas são proprietárias da madeira, mas os subprodutos das florestas, como as frutas silvestres ou os cogumelos, são de livre acesso. Ou seja, são exemplos de uso e compartilhamento de território reconhecidos não apenas por lei, mas principalmente pelos proprietários de terras daquele país. Exemplos como esse temos aqui no Brasil também, como é o caso da lei do Babaçu Livre no Maranhão, ou do acesso informal que é permitido aos pequizeiros em alguns locais nos cerrados brasileiros. Mas falta ainda o reconhecimento desse direito por grande parte dos proprietários de terra para que não tenhamos os conflitos que observamos no campo. Esses são apenas alguns exemplos de como podemos avançar nessas parcerias”, diz Anderson.
Em março será no Brasil
O prosseguimento da missão prevê a vinda ao Brasil dos representantes dos países visitados, para participarem de um workshop na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia em março de 2020, além de visita de campo em áreas de atuação do Projeto Bem Diverso. Também devem participar representantes de outras instituições internacionais que atuam aqui, em trabalhos relacionados aos produtos florestais não madeireiros (PFNM), para formulação e definição de estratégias de desenvolvimento de cooperação técnica-científica na área da promoção do uso sustentável da biodiversidade e bioeconomia, já com a definição de áreas geográficas de atuação conjunta, identificação de responsáveis por atividades e de mecanismos de colaboração e perspectivas de financiamentos.
Outros resultados esperados para essa missão, estão no de trazer a pauta do uso sustentável da biodiversidade como estratégia de sua conservação para a agenda de discussão de políticas públicas, de acesso ao crédito e de desenvolvimento em ciência e tecnologia; do estabelecimento de uma agenda de curto prazo de cooperação científica e tecnológica entre União Europeia-Brasil e do estabelecimento de bases para um ambiente estruturado de cooperação de longo prazo entre as instituições europeias e brasileiras.
“A oportunidade de troca de experiências é sempre muito rica, conhecer outras culturas, outras paisagens, outros modos ver e de se fazer, inclusive para reconhecermos e valorizarmos o que aqui temos e o que fazemos. E é fundamental constatarmos que sempre temos o que aprender e o que ensinar, uns com os outros. Essa é a base de todo o trabalho do Bem Diverso e é nesse ambiente que estamos construindo essa parceria com a União Europeia ”, finaliza Sevilha.