Bem Diverso, ribeirinhos e parceiros lançam Centro de Referência em Manejo de Açaizais Nativos do Marajó

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Equipes desenvolvem novas técnicas de manejo do açaí e impulsionam programa de formação de facilitadores para atuarem em suas comunidades

O Projeto Bem Diverso e parceiros do agroextrativismo formaram facilitadores do programa Centro de Referência em Manejo de Açaizais Nativos do Marajó, o Manejaí, no Assentamento Agroextrativista Acutipereira, comunidade Santo Ezequiel Moreno, no município de Portel, no Pará. As técnicas também serão implantadas em outras comunidades do arquipélago do Marajó.

O Manejo de Mínimo Impacto de Açaizais Nativos permite aumentar em até três vezes a produção de frutos ao estabelecer uma proporção adequada entre açaizeiros e outras espécies da floresta amazônica, em uma mesma área.

O objetivo é produzir e democratizar conhecimentos sobre a produção sustentável do açaí nas regiões de várzea, além de garantir a geração de renda das comunidades que trabalham com a coleta do fruto.

“Antes as comunidades trabalhavam de maneira desorganizada, sem ter o conhecimento do que é o manejo de mínimo impacto. Através da Embrapa e do Projeto Bem Diverso tivemos acesso a novas tecnologias e abraçamos essa responsabilidade com o meio ambiente de valorizar e cuidar mais da nossa Amazônia e do nosso Marajó”, explica Teofro Lacerda Gomes, ribeirinho e coordenador do Manejaí no Acutipereira.

O Manejaí atuará em diversas frentes, entre elas, a formação e multiplicação de facilitadores, em uma parceria entre técnicos em extensão rural (EMATER-PA) e lideranças comunitárias de diversos municípios do Marajó que, desde 2016, participaram dos treinamentos do projeto Bem Diverso na região. Esses facilitadores então retornam às comunidades, amplificando o público das capacitações.

Mas o trabalho vai além do compartilhamento de conhecimento em manejo de açaí. Teofro, que é agroextrativista, explica que o Manejaí tem também um papel social, de manter a ligação dos jovens à comunidade.

“A gente tem que trabalhar não apenas com o manejo, mas trabalhar a produção, trabalhar a comercialização, para que o jovem entenda que através do manejo ele pode agregar valor ao açaí e ter o seu próprio dinheiro", completa Teofro. 

Comunidades como a Santo Ezequiel Moreno hoje se organizam em torno do açaí como produção sustentável e vêm explorando outras potencialidades para otimizar a alocação dos recursos gerados com a produção.

É o caso do Fundo Solidário Açaí, uma iniciativa que arrecada o dinheiro da produção e reinveste em melhorias e infraestrutura para a comunidade. Criado em 2009, o Fundo capta, a cada safra, um valor fixo (hoje de R$ 2,00) por cada rasa de açaí vendida e reinveste em obras como a construção de uma ponte, da cozinha comunitária e até do poço artesiano que abastece a comunidade.

“A relação com o Manejaí vai ser muito boa para o Fundo. A gente já teve a possibilidade de arrecadar mais com a produção que aumentou. Antes a gente não produzia no inverno e esse ano colhemos em torno de 200 latas”, conta Claudia dos Santos, ex-coordenadora do Fundo.

Até final de 2020, o plano de trabalho traçado para o Manejaí prevê a realização de 18 cursos e a implantação de duas vitrines da tecnologia.

“O que a gente espera é que o produtor assimile a ideia de conservação, de sustentabilidade, que mantenha a diversidade do ambiente mantendo a densidade adequada de toceiras de açaí para permitir que as plantas se desenvolvam a contento e produzam mais frutos”, diz José Leite, engenheiro florestal da Embrapa e um dos Pontos Focais do Bem Diverso.

As atividades serão viabilizadas com recursos do Projeto Bem Diverso e do Banco da Amazônia. Os agentes multiplicadores contarão com um kit de material didático para auxiliar a comunicação com os ribeirinhos, chamado de “mochila do facilitador”.

Para Anderson Sevilha, coordenador do Projeto e Pesquisador da Embrapa, o aspecto de compartilhamento do conhecimento é essencial para o sucesso da iniciativa. “O Bem Diverso opera na lógica da simplicidade: conservar a biodiversidade através da implementação de ações que possam ser replicadas, reproduzidas. Isso porque no fundo o que se busca é a independência das comunidades, ações que libertem, não que prendam cada vez mais.”

Atividades com comunidades açaizeiras

Em maio, as equipes de treinamento do Projeto Bem Diverso concluíram visitas de acompanhamento, avaliação, orientação e implementação de políticas ecológicas em três comunidades agroextrativistas, nos municípios de Melgaço e Breves, no Pará.

Na primeira parada, aproximadamente 30 coletores de açaí de comunidades ribeirinhas da Mesorregião do Marajó participaram do treinamento em “manejo de mínimo impacto de açaizal nativo” e “criação e manejo de abelhas nativas sem ferrão”, em São José, no município de Melgaço (PA).

A comunidade ainda aprendeu técnicas para evitar a transmissão da Doença de Chagas no processo artesanal de coleta, armazenamento e batida do fruto, em um Workshop realizado em parceria com a Secretaria de Saúde do Estado, que disponibilizou um biomédico que trabalha no setor de endemia da doença na região.

A bordo do barco Plácido Pamplona, a equipe ainda percorreu as águas do Marajó no quarto ano de retorno ao Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Santa Maria, em Melgaço (PA), para observação dos resultados das práticas de agroextrativismo.

Em paralelo, técnicos e ribeirinhos avaliaram a implantação do georreferenciamento, inventário florestal e o acompanhamento anual de alterações da natureza. A comunidade avaliou se houve mudança, aumento ou diminuição de espécies nativas e os impactos na atividade econômica local.

Na semana anterior, a equipe também voltou ao PAE Ilha dos Macacos, primeiro projeto implementado pelo Projeto Bem Diverso, em Breves (PA). Dezessete extrativistas e técnicos participaram das atividades de inventário florestal nas parcelas permanentes, instaladas em 2016, no Rio Jupatituba.

O manejo de mínimo impacto de açaizal nativo tem por objetivo o aumento da produção de frutos de açaí, com manutenção ou aumento da diversidade florestal no açaizal.

As intervenções técnicas de manejo, com melhor distribuição das touceiras de açaizeiro e das demais espécies vegetais do ambiente, contribuem para o aumento da produção e ampliação do período de safra de frutos de açaí.

O Bem Diverso

O projeto Bem Diverso é uma parceria entre a Embrapa, o Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento (PNUD) e o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF).

A iniciativa abrange ações em outros biomas do país e é liderada pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. O principal objetivo é conservar a biodiversidade brasileira e gerar renda para comunidades tradicionais e agricultores familiares.

No Marajó – Pará, o projeto Bem Diverso trabalha para a sustentabilidade da cadeia produtiva do açaí. Desde 2016, a Embrapa promove treinamentos em Manejo de Mínimo Impacto de Açaizais Nativos em parceria com a Emater – PA e as prefeituras municipais.

Até 2018, foram capacitadas 1.193 pessoas, entre técnicos e agentes multiplicadores, em diversos municípios. A parceria com a Emater – PA e comunidades também levou a tecnologia para 820 ribeirinhos. De forma complementar, foram ministrados ainda cursos sobre criação de abelhas sem ferrão para cerca de 300 pessoas. Esses insetos são polinizadores do açaizeiro e contribuem para a produção de frutos.

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