O Bem Diverso atua nos principais gargalos das cadeias da produção de açaí e castanha-do-brasil
A parceria entre instituições no Território do Alto Acre e Capixaba vai possibilitar a realização de diversas ações com foco na organização social das comunidades extrativistas. O objetivo principal das atividades propostas para 2019 é obter resultados positivos para as cadeias produtivas da castanha-do-brasil e do açaí, dois dos produtos que são foco das ações do Bem Diverso na região, assim como o trabalho com Sistemas Agroflorestais, todos na Reserva Extrativista Chico Mendes.
“No Acre, o projeto Bem Diverso atua nos principais gargalos das cadeias dos produtos da sociobidiversidade. São comunidades distantes, que enfrentam problemas tanto de estrutura quanto sociais e econômicos. As atividades com foco na organização comunitária propiciam a divulgação de informações técnicas e a adoção de tecnologias de baixo custo, que causam um impacto significativo para os extrativistas da Reserva Chico Mendes”, conta a analista da Embrapa Acre, Dorila Gonzaga.
Castanha-do-brasil
Os moradores do Seringal Porvir, da Associação Wilson Pinheiro, que tem a castanha-do-brasil, ou castanha-do-pará, como principal fonte de renda vão desenvolver importantes ações do projeto Castanhal, selecionado em edital público da Fundação Banco do Brasil. A finalização de dos galpões individuais para secagem da castanha, a utilização de uma caminhonete para levar a produção até os pontos de venda e a aquisição de carroças com juntas de bois para o transporte da castanha dentro da comunidade estão dentre as atividades programadas para 2019. Os diretores da associação ainda vão participar de uma capacitação sobre comercialização e mercados institucionais, além de intercâmbio em comunidades extrativistas de Rondônia.
O monitoramento da produção de castanha, realizado há doze anos por profissionais da Embrapa, continuará esse ano, assim como o mapeamento de 40 castanhais do Núcleo de Base Wilson Pinheiro. A meta é aperfeiçoar os cuidados nas diferentes etapas do trabalho extrativista – da coleta dos ouriços na floresta à logística de transporte – e orientar sobre estratégias de venda mais compensadoras para a comunidade. As ações contam com o apoio do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio).
Açaí nativo
O mapeamento de três mil açaizais nativos da espécie Euterpe precatoria Mart. identificados e localizados pelos extrativistas da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes no município de Epitaciolândia (AC), em 2018, vai permitir o planejamento da safra de 2019, estimada em 21 toneladas.
“Nossa intenção, junto com profissionais da Universidade Federal do Acre (Ufac) e integrantes da Associação de Moradores e Produtores da Reserva Extrativista Chico Mendes (Amopreab), é reunir a comunidade para definir um acordo de coleta: quantos extrativistas vão coletar, quantificar essa produção e acompanhar o preço de venda do produto nas comunidades Porongaba, Filipinas e Porvir”, afirma Dorila.
A expectativa dos extrativistas para 2019, além da boa safra, é a aquisição, com apoio do Projeto Bem Diverso, de uma máquina de coletar açaí, desenvolvida por um agricultor paraense. No modo tradicional, é necessário escalar a palmeira, atividade que exige preparo físico e pode ser considerada de risco.
Segundo a professora da Ufac e coordenadora da atividade, Andrea Alechandre, a previsão para a safra de 2019 é de 21 toneladas de açaí. "O que daria uma renda de R$ 40 mil, nos valores atuais. Consideramos a produção de metade dos pés de açaí mapeados, pois na floresta não é garantido que todas as árvores frutifiquem todos os anos".
Sistemas Agroflorestais
Os sistemas agroflorestais combinam o plantio de espécies florestais com culturas agrícolas. Uma experiência realizada pela Embrapa Acre e pelo Projeto Bem Diverso em parceria com o agricultor familiar João Evangelista, no seringal Porvir, localizado na Reserva Extrativista Chico Mendes, em Epitaciolândia (AC), mostra que essa alternativa produtiva é economicamente viável e proporciona ganhos ambientais. Instalado há cinco anos, em dois hectares, o arranjo combina o plantio de seringueiras, açaizeiros, castanheiras, bananeiras e culturas anuais como milho e feijão.
Esse será o cenário para capacitações de outros extrativistas sobre sistemas agroflorestais (SAF´s) previstas para 2019. Também estão programadas a instalação de pequenas áreas de SAF´s em outras áreas da Reserva Extrativista em parceria com a WWF Brasil e a Cooperativa Central de Comercialização Extrativista (Cooperacre).
Comunicação Comunitária
Aliada a essas ações, estão previstas oficinas de comunicação comunitária para jovens da Reserva Extrativista com o objetivo de envolvê-los na organização social das comunidades. A participação em eventos nacionais será outra oportunidade para os jovens trocarem experiências com outros extrativistas e com diferentes elos da cadeia produtiva da qual fazem parte. Há ainda a previsão de produção, em conjunto com os jovens, de dois vídeos que mostrem o caminho que a castanha-do-brasil e o açaí percorrem até chegar à mesa do consumidor.
“Teremos grandes desafios essa ano, mas graças as parcerias com profissionais de outras instituições e com os extrativistas esperamos aprimorar ainda mais a qualidade do açaí e da castanha, obter o acesso a novos mercados e, principalmente, melhorar a qualidade de vida dos moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes”, conclui Dorila.
Território
Localizado no estado do Acre, o Território da Cidadania Alto Acre e Capixaba tem 1.530.000 hectares com 77,9% de cobertura florestal. Faz fronteira com Bolívia e Peru e é formado por diversas áreas protegidas, tais como: a Reserva Extrativista Chico Mendes, a Terra Indígena Cabeceira do Rio Acre e Terra Indígena Mamoadate (etnias Jaminawa e Manchineri), a Estação Ecológica do Rio Acre, a Área de Relevante Interesse Ecológico do Seringal Nova Esperança, além de 19 assentamentos da reforma agrária de diferentes modalidades.
A Reserva Extrativista Chico Mendes conta com cerca de 930 mil hectares, perpassa por sete municípios acreanos: Rio Branco, Capixaba, Assis Brasil, Brasileia, Epitaciolândia, Xapuri e Sena Madureira. Atualmente, são mais de 10 mil pessoas que tiram seu sustento da coleta de produtos florestais, da pequena agricultura de subsistência e da pecuária em pequena escala.
Saiba mais sobre o território: https://bit.ly/2BeL7mV
Priscila Viudes, Embrapa Acre