Valorização exponencial na comercialização das sacas produzidas por agricultores familiares e excelentes resultados em premiações demonstram que há grande espaço para que o café do Território conquiste o mundo
As primeiras sacas de café de pequenos agricultores familiares do Território de Alto Rio Pardo, no Norte de Minas Gerais, comercializadas na Semana Internacional do Café, acabam de ser entregues aos compradores. No rótulo do produto, dados do cafeicultor, da cooperativa, além das coordenadas geográficas da plantação cafeeira da região. Todas essas informações para apresentar o protagonista do resgate da história centenária dessas comunidades tradicionais: o café especial.
Pela primeira vez, os cafeicultores Geraizeiros da região tiveram seus cafés especiais vendidos por valores nunca antes imaginados: cerca de 1000% acima dos valores de venda já alcançados. Cada saca do café especial era vendido normalmente entre R$ 300 e R$ 400.
Com apoio do Projeto Bem Diverso, cafeicultores de Alto Rio Pardo levaram amostras da produção para o evento internacional, realizado de 7 a 9 de novembro em Belo Horizonte, onde tiveram a oportunidade de negociar o café especial. As sacas chegaram a ser vendidas por R$ 3 mil, R$ 1,5 mil e R$ 1,2 mil. Os melhores grãos do café foram selecionados em intercâmbio realizado com a parceira Associação dos Produtores do Alto da Serra de São Gonçalo do Sapucaí (APAS) no mês de agosto deste ano.
“A gente tem uma história com o café sombreado. Eu cultivo o café já há 24 anos e comecei pensando que seria uma renda a mais para a família”, contou Dona Clotildes Oliveira, que se surpreendeu com a agregação de valor que o café especial produzido por ela sofreu. A saca do grão produzido pela agricultora foi vendido por R$ 1,2 mil durante a Semana.
A devida valorização do café especial produzido em Alto Rio Pardo no mercado proporciona o resgate da história centenária do modo de produção pelas comunidades tradicionais do local, conhecidas como Geraizeiras. A singularidade em seus modos de produção se dá a partir das paisagens florestais de múltiplos usos, o que permite o modelo de chácaras sombreadas, no qual os cafezais se aproveitam da sombra de árvores da espécie ingazeiras e consorciam-se com outras plantas frutíferas.
É assim que os pés de café especial ajudam a assegurar os modos e meios de vida dessas comunidades tradicionais de agricultoras e agricultores familiares, promovendo a geração de renda e o bem-estar dessas populações. “O sistema de produção em chácaras sombreadas foi desenvolvido pelos moradores de Alto Rio Pardo há mais de 100 anos e caracteriza-se como modelo de produção cultural. É um patrimônio histórico, cultural e ambiental da região”, defende Ronaldo de Almeida, técnico em Agropecuária do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas Gerais (CAA).
Capacitação para o reconhecimento
O café especial do Norte de Minas também foi celebrado pelos parceiros da Associação dos Produtores do Alto da Serra de São Gonçalo do Sapucaí (APAS). Na Semana Internacional, o produtor Alessandro Hervaz ficou em terceiro lugar na competição de melhor café especial do Brasil (Coffe of the Year). Pouco antes, no mês de outubro, quatro produtores da associação também foram selecionados dentre os 40 melhores produtores do Brasil na premiação Cup of Excellence – Brazil 2018. Alessandro Hervaz ficou em oitavo lugar na categoria dedicada aos cafés naturais, colhidos e secos com casca, com nota superior a 90 pontos (escala de zero a 100 da competição). No júri, 29 profissionais de 10 países.
O Cup of Excellence – Brazil 2018 é considerado o principal concurso de qualidade para cafés do mundo, realizado pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a Alliance for Coffee Excellence (ACE).
“Estar entre os melhores produtores de café é uma vitória muito grande, já que tudo começou pela Associação há 12 anos. O trabalho dos produtores de Alto Rio Pardo também está neste caminho e acredito que logo mais estarão figurando entre os melhores cafés do Brasil”, declarou Alessandro Hervaz em referencia aos produtores como Dona Clotildes.
A parceria do Bem Diverso com a APAS já apresenta bons resultados como os da Semana Internacional do Café. Mas a atuação do Projeto vai além e investe na capacitação de produtoras e produtores familiares do território de Alto Rio Pardo. Há cerca de um ano, dezenas de cafeicutores são
capacitados em oficinas de melhores práticas para o cultivo do café no sistema de produção das chácaras sombreadas, ameaçado pelo avanço de grandes monocultivos de eucalipto há décadas.
São oficinas de poda, capina seletiva, seleção de semente, controle fitossanitário orgânico e manejo da coleta, que permitiram aos produtores experimentarem a recuperação e implantação de chácaras de café sombreado. “Os sistemas produtivos tradicionais carregam em si a história do processo de construção da identidade e do território das comunidades Geraizeiras. Para eles, o resultado das análises do café vem apenas confirmar a percepção que já possuíam, de que o café que produzem, há gerações, é, sem dúvida alguma, especial”, confirmou o coordenador do Projeto Bem Diverso, Anderson Sevilha.
Além da APAS, as atividades desenvolvidas pelo Projeto Bem Diverso junto aos produtores de café de Alto Rio Pardo contam com os parceiros Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA); Cooperativa de Agricultores Familiares Agroextrativistas de Água Boa II (Coopaab); Cooperativa de Agricultores Familiares Agroextrativistas Vereda Funda Ltda. (Coopav); Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG); Escola Família Agrícola Nova Esperança (EFA-NE); Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Rio Pardo de Minas.
Lara Aliano, Agência MOC