Oficina prepara jovens extrativistas para a comunicação comunitária

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Jovens moradores de comunidades tradicionais se capacitam para o uso de mídias digitais com foco na produção e divulgação de conteúdos de interesse local

Extrativistas do Acre e Minas Gerais participaram de oficina de comunicação comunitária, realizada pela Embrapa, por meio do projeto Bem Diverso, no município de Brasileia (AC), entre 15 e 17 de novembro. A atividade teve como objetivo capacitar jovens moradores de comunidades tradicionais para o uso de mídias digitais, com foco na produção e divulgação de conteúdos de interesse dessas localidades.

Ministrada por profissionais da Rede Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação), organismo que atua na produção e compartilhamento de conteúdos informativos em plataformas digitais, de forma colaborativa, a capacitação abordou aspectos do processo de comunicação, incluindo a escolha de pautas, cobertura em tempo real, narrativas e linguagens midiáticas, interatividade na Web e planejamento de campanhas colaborativas de divulgação. Os participantes também puderam ampliar conhecimentos sobre o uso de mídias alternativas no contexto das reservas extrativistas e em ambientes urbanos. O segundo dia do evento foi destinado a práticas de produção de conteúdos informativos (foto, vídeo e texto), compartilhamento e divulgação, via internet.

De acordo com Priscila Viudes, analista da Embrapa Acre e coordenadora da oficina, as atividades buscaram mostrar que é possível uma atuação nas mídias sociais para além do entretenimento, com foco na comunicação comunitária e no interesse coletivo. “As tecnologias digitais podem ser utilizadas para dar visibilidade às conquistas, demandas e reivindicações das comunidades rurais, dificilmente retratadas pelas mídias tradicionais, já que a maioria dessas localidades é de difícil acesso e distante das cidades. Sabemos que essas ferramentas ainda são pouco presente no meio rural amazônico, mas muitos moradores dispõem de celular e utilizam ativamente as redes sociais, por meio dessa tecnologia, no trânsito entre o meio rural e os contextos urbanos”, explica.

Para o jornalista Clayton Nobre, instrutor da oficina, embora as dificuldades de acesso à energia elétrica e a tecnologias como telefone e internet ainda sejam latentes em muitas comunidades rurais, há uma um interesse comum dos seus moradores pelas tecnologias da comunicação e uma propensão ao uso das tecnologias digitais, especialmente os mais jovens. Em muitos casos, mesmo vivenciando realidades tão adversas, eles encontram formas alternativas para se comunicar e interagir nas mídias sociais.

“Não devemos jamais subestimar a capacidade inventiva dessa geração, por isso, procuramos despertar nesse público que ainda não tem a cultura digital internalizada, que ele pode se enxergar como um cidadão multimídia e que, independente das dificuldades, cada pessoa tem a capacidade de produzir suas próprias narrativas e contar o que acontece na comunidade”, destaca Nobre.

Troca de experiências
A oficina cotou com 30 participantes e deste total, 25 moram nas Reservas Extrativistas (Resex) Alto Tarauacá (município de Jordão), Chico Mendes (municípios de Epitaciolândia, Brasileia, Xapuri e Assis Brasil), Riozinho da Liberdade (Tarauacá), Alto Juruá (Marechal Thaumaturgo), Cazumbá Iracema e Floresta Nacional do Macauã (Sena Madureira). Também participaram extrativistas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Nascentes Geraizeiras, Unidade de conservação localizada no município Pardo de Minas (MG), no território da Cidadania Alto do Rio Pardo, e técnicos de instituições parceiras. O evento tem o apoio do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e Governo do Acre por meio do Instituto de Mudanças Climáticas (IMC) e Secretaria de Meio Ambiente (Sema).

A atividade também proporcionou a troca de experiências entre extrativistas que já atuam com mídias sociais e quem está se preparando para o uso das tecnologias digitais. A agricultora familiar Edianilha Ribas (a Nina), moradora da comunidade Olhos D´Água, município de Taiobeiras, localizado no Território da Cidadania Alto Rio Pardo (MG), atua com comunicação popular há três anos e acredita que as redes sociais são importantes ferramentas para a socialização de vivências e mobilização social. Em sua percepção, as comunidades rurais localizadas em territórios da Amazônia e do Cerrado mineiro guardam semelhanças tanto em relação à diversidade de povos tradicionais quanto em termos de demandas sociais, além da necessidade crescente de reforçar a comunicação como forma de empoderamento de suas populações.

“Quando bem utilizadas, as tecnologias da comunicação são armas poderosas para obtenção de conquistas coletivas e ajudam a fortalecer as comunidades rurais. A exclusão digital no meio rural não representa impedimento para uma comunicação comunitária eficiente. Em localidades sem acesso à internet é possível comunicar bem aspectos da vida da comunidade utilizando mídias tradicionais como o rádio ou ainda por meio de conversas verbais, aspecto que ajuda a manter viva a tradição de oralidade”, enfatiza Nina.

Um dos resultados práticos da oficina é que os participantes que moram na Reserva Extrativista Chico Mendes  possam atuar na cobertura em tempo real da Semana Chico Mendes, evento alusivo aos 30 anos da morte do ativista acreano, que acontecerá nos dias 15, 16 e 17 de dezembro, no município de Xapuri.

 

Diva da Conceição Gonçalves (Mtb-0148/AC) 
Embrapa Acre 

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