Alunos dos cursos de Agronomia e Engenharia Florestal da Universidade Federal do Acre (Ufac) participaram de aula prática na Reserva Extrativista Chico Mendes (Resex), em Epitaciolândia (AC), para conhecer resultados de pesquisas da Embrapa Acre com Sistema Agroflorestais (SAFs)
Realizada durante o mês de fevereiro, a atividade serve como parte dos conteúdos programáticos da grade curricular, e mostrou as vantagens de integrar diferentes atividades produtivas.
Os SAFs permitem combinar agricultura, atividade florestal e criação de pequenos animais, numa mesma área. O experimento de dois hectares, implantado em uma propriedade do seringal Porvir, associa o cultivo de milho e feijão com o plantio de frutíferas (açaizeiro, bananeira) e espécies florestais (seringueira e castanheira) e tem funcionado como uma espécie de vitrine para demonstrações práticas da dinâmica de funcionamento e vantagens destes sistemas, para diversos públicos.
“Nos três primeiros anos produzimos milho e feijão em sistema de sucessão de culturas. Depois, plantamos as frutíferas e as árvores. Parte da produção de grãos foi destinada ao consumo da família e à alimentação dos animais e a outra parte comercializei. Atualmente, vendo uma média de 80 cachos de banana por mês”, diz o agricultor familiar João Evangelista, parceiro na pesquisa.
O Pesquisador da Embrapa Acre e Ponto Focal do Bem Diverso Tadário Kamel, responsável pela condução dos estudos, enfatizou para os alunos a importância dos sistemas agroflorestais para a Amazônia e destacou os benefícios da adoção dessa alternativa de produção. Utilizar arranjos adequados à realidade extrativista permite diversificar a atividade produtiva, ampliar a oferta de alimentos e gerar mais renda para as famílias. “Paralelo aos ganhos socioeconômicos, os SAFs também proporcionam benefícios ambientais. Por conter espécies florestais nativas da região, o arranjo estudado pode ajudar na recomposição do passivo ambiental de algumas colocações da Reserva”, explica.
Para João Carlos Araújo Nogueira, aluno do 8º período do curso de Agronomia, além do acesso a novos conhecimentos, a atividade serviu para modificar a sua percepção sobre os Sistemas Agroflorestais. “Eu duvidava da viabilidade dos SAFs em área extrativista, mas a experiência mostrou que, quando bem implantados e com o devido acompanhamento técnico, estes sistemas funcionam muito bem, associando produção e conservação ambiental. O produtor tem uma oportunidade de negócio, mas também pode conservar os recursos naturais da propriedade, devido ao caráter sustentável da atividade”.
Na opinião do estudante Jailton Cavalcante Silva, também acadêmico de Agronomia, o que mais chamou a atenção nas pesquisas é a possibilidade de adaptar o modelo, de acordo com as necessidades do agricultor, inserindo novas espécies florestais e frutíferas comuns na região e com potencial de mercado. Além disso, é possível começar a atividade em uma pequena área e ampliar aos poucos. “Conhecer práticas de pesquisa e ouvir o produtor rural falar do trabalho realizado e dos benefícios alcançados torna a experiência incontestável”.
Articulação teoria e prática
De acordo com a professora da disciplina Sistemas Agroflorestais da Amazônia, Almecina Balbino, o trabalho de campo é essencial para colocar o aluno em contato com a realidade local, ampliar o aprendizado e a sua visão de mundo. Por isso, em sala de aula são abordadas questões teóricas como a importância econômica e social destes sistemas para a região e função ecológica na natureza. Em um segundo momento, o objetivo é proporcionar a vivência com agricultores familiares, por meio de práticas relacionadas aos conteúdos ministrados.
“Pudemos mostrar para os alunos uma série de benefícios decorrentes do uso dos SAFs, desde a recuperação do solo, adequação da paisagem florestal, conservação dos ecossistemas e incremento da renda familiar utilizando minimamente recursos externos, até a permanência das famílias rurais no campo. Essa relação entre o que ensinamos na academia e a prática fortalece a formação acadêmica e ajuda a criar novas perspectivas para o futuro profissional dos estudantes. O apoio de instituições de pesquisa ajuda a garantir a articulação entre teoria e prática e o cumprimento desse objetivo”, ressalta.
Kamel considera a parceria com instituições de ensino uma via de mão dupla, com ganhos múltiplos. Ao mesmo tempo em que apoia a formação acadêmica de futuros profissionais, facilitando o acesso a resultados práticos de pesquisa, contribui para despertar nos alunos o interesse por temas relevantes para a região, como é o caso dos Sistemas Agroflorestais. “Muitos estudantes ingressam em cursos de pós-graduação (Mestrado e Doutorado) e acabam atuando como bolsistas em projetos da Unidade, também fortalecendo as pesquisas institucionais”, diz.
Projeto Bem Diverso
As pesquisas com SAFs, realizadas na Resex Chico Mendes, acontecem desde 2012, e a partir de 2016 os estudos passaram a fazer parte do Projeto Bem Diverso, fruto da parceria entre a Embrapa e o Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento (PNUD), com financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). Liderada pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília/DF), o Bem Diverso desenvolve ações em três biomas (Caatinga, Cerrado e Amazônia), voltadas para a conservação da biodiversidade e geração de renda para comunidades tradicionais e agricultores familiares.
De acordo com Kamel, um dos objetivos específicos do trabalho na Reserva é ajudar a conter a expansão pecuária e recuperar áreas alteradas ou degradadas em função de práticas agrícolas e pecuárias intensivas, através da implementação de Unidades Demonstrativas de Aprendizagem. Também são analisados diferentes coeficientes técnicos, incluindo os custos de implantação e a produtividade de cada cultura, para comprovar a viabilidade econômica destes sistemas.
“Além do retorno financeiro e da geração contínua de trabalho e renda para os agricultores, os SAFs proporcionam a oferta de alimentos para consumo das famílias, contribuindo para a segurança alimentar, e benefícios ambientais como a conservação da biodiversidade. Estes resultados podem subsidiar políticas públicas ou projetos de financiamento com foco na ampliação do uso destes consórcios (SAFs) em comunidades extrativistas e outras localidades amazônicas”, destaca o Pesquisador.
Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
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