Onde atuamos

O Projeto Bem DiveRso atua diretamente em seis Territórios da Cidadania (TC) localizados nos biomas Amazônia, Cerrado e Caatinga.

AMAZÔNIA

Marajó

CAATINGA

Sobral

Informações

BIOMA
Cerrado, Caatinga

ESTADO
Minas Gerais

PLANTAS
Veludo
Pequi
Araticum
Coquinho azedo
Maracujá-do-mato ou maracujá da Caatinga

Parceiros
CAA
EMATER-MG
EFA – NOVA ESPERANÇA
ICMBIO
STTRRPM

Alto Rio Pardo (MG)

Localizado no norte de Minas Gerais (MG), numa área de transição entre os biomas Cerrado e Caatinga, o Alto Rio Pardo abrange uma área de 15.322,9 Km² envolvendo 14 municípios mineiros: Berizal, Curral de Dentro, Fruta de Leite, Indaiabira, Montezuma, Novorizonte, Rio Pardo de Minas, Rubelita, Salinas, Santa Cruz de Salinas, Santo Antônio do Retiro, São João do Paraíso, Taiobeiras e Vargem Grande do Rio Pardo.

O que caracteriza a região do Alto Rio Pardo é sua alta biodiversidade, com fauna e flora típicas de paisagens do Cerrado e de transição com a Caatinga, e a riqueza cultural de suas populações no convívio com seu Território. Apesar dessas riquezas, a região sofre vários tipos de pressões, principalmente devido o uso inadequado dos solos com agricultura irrigada, mineração e monocultura de eucalipto praticadas por grandes fazendas e empresas. Com a substituição da vegetação nativa promovida ao longo dos anos pelos grandes empreendimentos, vieram a degradação dos solos, assoreamento dos rios e o secamento das nascentes e rios que cortavam a região. Diante desse cenário, o Bem Diverso vem atuando junto aos diferentes atores locais na busca por soluções para a restauração de seus cerrados e de suas águas, outrora fartas. As atividades do Projeto estão centradas no incentivo às iniciativas locais de promoção do extrativismo sustentável, do uso de sistemas agroflorestais e da valorização dos conhecimentos tradicionais associados às práticas de conservação, manejo e restauração da paisagem e dos agroecossistemas.

Comunidades

A população territorial é de cerca de 178 mil habitantes (IBGE, 2010), dos quais, cerca de 77 mil (43 %) vivem na zona rural. O Alto Rio Pardo é lar de uma grande diversidade de comunidades tradicionais que habitam o Território há centenas de anos, praticando técnicas tradicionais de manejo e uso sustentável da biodiversidade. Dentre os principais, destacam-se os Geraizeiros e os Quilombolas.

Os Geraizeiros ocupam os chamados “Gerais”, região de chapadas do Cerrado norte-mineiro que cobre boa parte do Território Alto Rio Pardo. Este grupo tem forte ligação com a terra, manejando-a há séculos no extrativismo de produtos do Cerrado e na criação à solta de animais nas terras comunais das chapadas e suas encostas, e no estabelecimento de roças, quintais e currais nas áreas de baixadas, onde constroem suas moradas. Essas populações são caracterizadas pela estreita relação de parentesco e colaboração mútua entre seus povoados realizando trocas de plantas e de conhecimentos associados à natureza e a vida geraizeira. Estes ainda mantêm relações históricas de comércio e trocas com os Catingueiros, localizados na baixada São Franciscana, e com as comunidades tradicionais do vale do Jequitinhonha.

Da mesma forma, os Quilombolas do Alto Rio Pardo também se relacionam com os outros grupos. Vivem também do extrativismo e da agricultura familiar. Assim como os Geraizeiros, muitas das comunidades Quilombolas não têm titulação das suas terras e seguem lutando pelo reconhecimento de sua identidade e de seus territórios para manter vivas suas tradições e seus modos de criar, fazer e viver.

Esses grupos de povos tradicionais compartilham entre si diversos dilemas associados ao uso do território. Embora esses povos estejam há séculos na região, os mesmos vêm sendo expulsos de suas terras pela monocultura do eucalipto e a mineração, principalmente. Há alguns anos esses grupos se organizaram em diferentes movimentos sociais na luta pelas suas terras, como o Movimento Geraizeiro e a Articulação Rosalino Gomes de Povos e Comunidades Tradicionais, para assegurar seus modos de vida e fontes de sobrevivência que vem da biodiversidade local.

As plantas do Território

O Projeto Bem Diverso elencou no Alto Rio Pardo, o araticum, coquinho azedo, maracujá do mato, mangaba, pequi e o veludo como plantas prioritárias para trabalhar estratégias de boas práticas de extrativismo sustentável e acesso ao mercado. Além de serem alimentos indispensáveis na dieta das comunidades locais ou de uso madeireiro na construção de casas, currais, cercas ou como lenha, são dessas espécies que muitas famílias fazem o complemento de sua renda por meio da comercialização de seus frutos in natura, ou em polpas, doces, geleias, e óleos, principalmente.

Centro de referência em Conservação, Manejo e Restauração do Cerrado

A restauração ecológica do Cerrado é um tema amplamente abordado junto às comunidades do TC Alto Rio Pardo. As chapadas, topos de morro de relevo relativamente plano e cobertos originariamente com vegetação de ambientes savânicos, sofreram forte impacto pela substituição de sua cobertura, principalmente pela monocultura de eucalipto. Iniciada na década de 1970, a substituição da vegetação nativa promoveu a redução dos recursos naturais e fortes impactos nos ciclos hidrológicos da região. Mediante a necessidade de restaurar essas áreas para devolver os bens e serviços ambientais prestados pela vegetação nativa e garantir a disponibilidade de espécies para o uso extrativista da região, iniciou-se uma série de oficinas promovidas pelo Projeto Bem Diverso junto às comunidades locais. Estas oficinas abordaram os temas relacionados à leitura da paisagem, importância da restauração do Cerrado, tipos e composição dos estratos da vegetação de Cerrado, técnicas de coleta e beneficiamento de sementes, técnicas de restauração por semeadura direta, bacias de contenção e infiltração de água de chuva, implantações de unidades demonstrativas de restauração, entre outros. Tais atividades, resultaram na formação do Grupo de Coletores e Restauradores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Nascentes Geraizeiras (https://www.instagram.com/coletores_restauradoresrds/). Este grupo conta hoje com membros de diversas comunidades Geraizeiras situadas em cinco municípios Mineiros (Montezuma, Vargem Grande do Rio Pardo, Rio Pardo de Minas, Taiobeiras e Berizal) e atuam na coleta e venda de sementes para restauração do Cerrado, na multiplicação das práticas de restauração ecológica junto à outras comunidades do território e na prestação de serviços relacionados à restauração do Cerrado. O grupo conta com 5 unidades demonstrativas de restauração, sendo duas delas implantadas na RDS Nascentes Geraizeiras, em delineamento experimental e monitoramento trimestral da restauração, realizados pelas próprias comunidades e professores e estudantes da EFA – Escola Família Agrícola Nova Esperança de Taiobeiras – e estudantes do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, Campus Salinas. Além da restauração dos serviços ambientais, as ações de restauração de base comunitária visam dar sustentabilidade ao extrativismo de produtos do cerrado, hoje processados e comercializados pela Coopaab – Cooperativa de Agricultores Familiares e Agroextrativistas de Água Boa II (https://www.instagram.com/stories/cooperativa_agroextrativista/2572097854902631891/). Além do processamento de frutos e comercialização de polpas, a Coopaab atua ainda na multiplicação das ações de internalização de boas práticas de fabricação desenvolvidas pelo Projeto, junto às comunidades locais, unidades de beneficiamento de produtos e estudantes da EFA, e na produção de mudas para restauração dos cerrados da região.

Outro grupo consolidado na região durante a execução do Projeto foi o Bolsão da Riqueza, que se dedica principalmente à produção de café em sistemas agroflorestais, ou “chacras de café”, como localmente denominado. As chácaras de café sombreado são muito antigas na região e remontam há mais de 150 anos de prática. De modo geral, essas chácaras encontram-se próximas dos cursos de água, em áreas de baixadas, ou média encosta dos vales encaixados entre as chapadas onde se estabelecem as unidades familiares. Ao chegarmos na região, uma das grandes preocupações de nossos parceiros locais se encontrava na ameaça de desaparecimento dessa prática centenária e, com ela, da tradição, cultura e mesmo da variedade de café utilizada, o Mundo Novo Antigo. Os motivos apontados estavam centrados basicamente na baixa produtividade, alta incidência de pragas, pouca valorização do produto, dentre outros fatores. Com isso, iniciamos em parceria com a Emater-MG, a Cooperbio – Cooperativa de Produtores Orgânicos e Biodinâmicos da Chapada Diamantina, Bahia e a APAS – Associação dos Produtores do Alto da Serra, de São Gonçalo do Sapucaí, Minas Gerais, um trabalho intenso de capacitação e troca de experiências sobre tratos culturais em relação à poda do café e espécies companheiras, aos aspectos nutricionais e fitossanitários, colheita e pós-colheita e, por fim, classificação, torra e prova de café. Este trabalho resultou na produção de um café classificado como especial  (BSCA 87 pontos), elevando o preço de venda do café de R$ 400 para R$ 1.200 a saca, a produtividade média de 14 para 36 sacas por hectare, e com a exposição desse café na Semana Internacional do Café de 2018, expandiu o mapa de produção de cafés especiais de Minas Gerais para a região do Norte de Minas. Hoje, nesta atividade, estão envolvidos 36 produtores que, além  do cultivo de suas chácaras, dedicam-se ainda ao processo de treinamento e capacitação de novos agricultores e à multiplicação dessas chácaras na restauração de áreas degradadas da região. Este trabalho conta ainda com o monitoramento das atividades por estudantes e professores da EFA e de extensionistas da Emater-MG, sendo a comercialização desse produto, e de outros produtos do agroextrativismo, realizada pela Coopav – Cooperativa de Agricultores Familiares Agroextrativistas Vereda Funda, sob a marca Cacunda de Librina (https://www.facebook.com/CacundadeLibrina/).

Já o grupo de comunicadores populares, foi consolidado no território a partir de oficinas de formação em fotografia, produção de vídeos e comunicação popular, o que contribuiu para a integração da juventude local nas atividades do Projeto na mobilização social, no registro audiovisual dessas atividades e na comunicação de seus resultados para suas comunidades e território. Essas oficinas proporcionaram a formação e o desenvolvimento de capacidade em diferentes tópicos relacionados às atividades produtivas de suas comunidades e o resgate dos valores tradicionais e culturais, essenciais para se garantir o processo sucessional nessas comunidades. A consolidação do grupo de jovens comunicadores populares do Alto Rio Pardo contribuiu ainda para dinamizar a interação da juventude em seus grupos sociais e sua aproximação com gerações mais experientes no planejamento e execução das atividades comunitárias. Como resultados, observa-se hoje no Alto Rio Pardo, o protagonismo assumido por jovens e mulheres nas atividades familiares e comunitárias e, também, nas atividades do Projeto. Jovens e mulheres são lideranças nos processo de multiplicação e replicação das práticas desenvolvidas pelo Projeto, quer nos sistemas produtivos, em relação à conservação, manejo e restauração dos Cerrados, quer nos processos de agroindustrialização e comercialização de produtos e de promoção de acesso à políticas públicas e crédito. Adicionalmente, observa-se hoje uma participação mais ativa de mulheres e jovens também nos espaços sociais e decisórios de seus territórios, assumindo, por exemplo, posições de comando, gerência ou presidência de cooperativas, associações e sindicatos no território.

Por fim, a incorporação da EFA – Escola Família Agrícola Nova Esperança de Taiobeiras – no planejamento e desenvolvimento das atividades no Território, possibilitou conectar os eixos básicos de atuação do Projeto e a consequente criação do Centro de Referência em Conservação, Manejo e Restauração do Cerrado, integrando as práticas agroextrativistas às práticas de ensino junto à estudantes e organizações comunitárias locais. A EFA, por meio da educação no campo em metodologia da pedagogia da alternância, isto é, duas semanas na escola e duas semanas em casa para colocar em prática os ensinamentos adquiridos na escola, insere a juventude local, filhos e filhas dos agricultores familiares e extrativistas da região, nas práticas de ensino voltadas ao contexto socioambiental, cultural e produtivo do Território. Neste ambiente, além do programa de formação básica da grade curricular do ensino médio, das disciplinas voltadas à formação técnica em agropecuária e do programa de formação do Projeto; são abordados ainda, a concepção dos modos de vida das comunidades, saberes, identidade social e a trajetória de lutas alavancadas pelos movimentos populares da região pela restauração de seu território, de suas águas e do cerrado. A consolidação deste Centro de Referência permite, de forma estratégica, a formação e o desenvolvimento de capacidades locais, oportunidades para inserção profissional de jovens e a garantia de sustentabilidade das ações do Projeto no Território em longo prazo, no que diz respeito ao uso sustentável da biodiversidade; na internalização de boas práticas nos sistemas produtivos locais, nas unidades de beneficiamento, processamento e comercialização de produtos; e no acesso à políticas públicas e crédito.

Parcerias

No TC Alto  Rio Pardo, o Bem Diverso atua por meio da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e da Embrapa Cerrados, com sede em Brasília, DF. Para o desenvolvimento de suas atividades, o Projeto conta ainda com a parceria do Instituto Federal de Brasília, Campus Planaltina, DF, e das parcerias locais, que possuem vasta experiência na atuação em projetos comunitários e socioambientais que, diretamente ou indiretamente atuam na conservação e no uso sustentável do Cerrado. Dentre os parceiros locais estão o Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM), Cooperativa de Agricultores Familiares e Agroextrativistas de Água Boa II (Coopaab), Cooperativa de Agricultores Familiares Agroextrativistas Vereda Funda (Coopav), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Escola Família Agrícola Nova Esperança (EFA),  Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) – Campus Salinas, Rede Sociotécnica do Alto Rio Pardo, Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Rio Pardo de Minas e Associações comunitárias do Território.

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